Maria, figura central da próxima Jornada Mundial da Juventude, é o primeiro sinal da Primavera de Deus, no inverno da humanidade. Como no-lo recorda o lema da JMJ, partiu “apressadamente”, porque essa Primavera, anunciada pelos profetas e ansiada pelo “povo que habitava nas trevas” (Mt 4, 16; Is 9,1) não podia mais ser adiada: tinha de contagiar outros, como mais tarde fará seu Filho Jesus, pelos caminhos da Palestina.
Passados dois milénios, o inverno persiste (conflitos, desigualdades e injustiças). Porém, tampouco essa Primavera deixou de dar sinal de si, da sua presença atuante.
Propomo-nos descobrir e conhecer “rostos jovens” de Deus. Jovens que foram Flores e frutos de fé, testemunhando a alegria e a paz dos filhos de Deus, em situações extremas de sofrimento ou na defesa da pureza; flores e frutos de esperança perseverante no longo inverno persecutório da fé, em tantos lugares do planeta e ao longo da história; flores e frutos de caridade que perfumaram a humanidade, na entrega das suas vidas pela dos outros, mais pobres ou vulneráveis da sociedade, em defesa da verdade e da justiça.
São raparigas e rapazes de 4 continentes, dos séculos XX e XXI. Uns, cristãos desde o berço, outros, conversões extraordinárias, onde e quando menos era espectável. Todos morreram cedo, mas marcaram o seu tempo e seus conterrâneos, porque todos frutos maduros. Assim são as Primaveras de Deus.
Desafiamos-vos, ao longo deste ano, a conviverem com eles: tomai-os como companheiros de vida cristã, mestres com quem aprender, amigos espirituais em quem colher inspiração e a quem orar, pois a maioria é venerável ou beatificada.
PIER GIORGIO FRASSATI foi chamado de “homem das oito bem-aventuranças” pelo papa João Paulo II, aquando da sua beatificação, em 1989. Nascido em Turim, a 6 de abril de 1901, aparentava ser um jovem comum, extrovertido, expansivo, apelidado pelos amigos de “Robespierre” por desejar uma radical revolução social no seu país. Gostava de desporto, teatro e música. Apaixonado por arte, declamava de cor os versos de Dante e frequentava museus e a ópera. Desfrutava plenamente da vida. Mas algo bem mais marcante distinguiu este jovem.
A 1 de Abril de 1984, faleceu CLAIRE-ASTRID MUAMBULE, Irmã Clara da Eucaristia, como ficou conhecida na vida religiosa. Em 24 anos, esta jovem nascida no Zaire (atual República Democrática do Congo) irradiou a sua felicidade e alegria em Deus, apesar de enfrentar um cancro na face que a deformou e crivou de sofrimento o final da sua vida. Filha de um comerciante, líder de uma seita, o amor privilegiado que recebe do pai – que a trata de “minha pequena rainha” – infunde nela um forte carácter, onde se misturam orgulho, gabarolice, vontade férrea, mas também firmeza e retidão. Surpreende que, apesar das ameaças do pai, decide ser batizada na Igreja Católica, recebendo o nome de Astrid. Será o único membro da numerosa família a deixar a seita do pai. No mesmo dia em que se batizou, com 12 anos, a 7000 quilómetros de distância, celebrou-se a cerimónia de envio de um grupo de religiosas clarissas que fundariam uma comunidade em Kabinda, cidade do sul do Zaire. Astrid não o sabe ainda, mas esta viria a ser a sua futura família.
MONTSERRAT GRASES nasce a 10 de Julho de 1941, em Barcelona. É a segunda de nove irmãos. Seus pais são muito cristãos e asseguram aos filhos uma educação baseada na abnegação, a entreajuda mútua, a generosidade e a oração. Aparentemente, nada parece destacar Montse, nome pelo qual era tratada. Foi-se aproximando de Deus pouco a pouco, através das pequenas coisas diárias e na sua relação com os outros. Para além da família, encontra outro apoio pelo qual caminha e forma sua consciência cristã, sempre na liberdade própria do seu carácter: um lar para adolescentes e jovens raparigas, orientado pela OPUS DEI, promovendo formação, convívio e oração. Paralelamente, mantém uma vida normal. Adora praticar desporto, música e dança.
NICOLA D'ONOFRIO nasce na Itália, em Villa Magna, no dia de 24 de março de 1943. Educado religiosamente, destaca-se cedo pela sua diligência, bondade e disponibilidade para com os outros. Desafiado por um sacerdote da Ordem de São Camilo, pondera a vocação consagrada e sonha formar-se como Camiliano, em Roma. Essa ordem dedica-se especialmente ao cuidado dos doentes e necessitados. Os pais, porém, opõem-se a tal projeto. Sendo ele o filho mais velho, o pai precisava dele para trabalhar no campo. A mãe prefere que ele entre no seminário diocesano, na cidade vizinha de Chieti. As tias, entretanto, tentaram “suborná-lo” prometendo-lhe ser o herdeiro único da família. Mas a perseverança de Nicola foi mais forte. Um ano depois obteve a permissão.
Marcelo Henrique Câmara deixou esta vida a 20 de março de 2008, com fama de santidade. Era uma Quinta-feira Santa, dia da instituição da Eucaristia pela qual tinha tanta devoção. Marcelo, nascido na ilha de Santa Catarina – Brasil – a 28 de junho de 1979, era um jovem, leigo, promotor de justiça. Procurou a santificação através das tarefas quotidianas, celebrando cada alegria e carregando a cruz, identificando-se com Cristo sofredor. E Marcelo teve a sua porção de dores. Da avó, aprendeu as primeiras orações. Dos pais, com quem viveu até aos 10 anos, recebeu uma excelente educação. Em 1989, a separação dos pais marcou-o profundamente. Passando a morar com a mãe e o irmão mãos novo, forçou-se a ter atitudes de um verdadeiro adulto: preocupado em ajudar a mãe nas tarefas, cuidado com a gestão da casa… Sentia-se responsável pelo futuro e bem-estar dos familiares. Essa atenção caracterizou toda a sua restante vida.
“Nada me pode retirar a arma do Amor… Decido ir, para que haja alguém que ame a Deus no meio dos comunistas… A minha morte tornar-se-á vida para muitos. A minha morte marcará o início da paz para o Vietname.” Assim falava um jovem redentorista vietnamita, Joaquim Nguyen Tan Van, mais conhecido sob o nome religioso de MARCEL VAN. Ofereceu-se como voluntário para Hanoi, capital do norte do país que ficara sob regime comunista, quando todos fugiam de lá. Sua família era profundamente cristã. Nascido a 15 de março de 1928, e dotado de uma inteligência prodigiosa, passou uma infância feliz, apesar da dureza da vida. Data marcante foi a sua primeira comunhão: “Num instante, tornei-me como uma pequena gota de água perdida no meio do oceano. Agora, só resta Jesus e eu; e eu apenas sou o pequeno nada de Jesus”. Nessa altura, somente com 6 anos, nasce-lhe um desejo: “Queria tornar-me padre para anunciar a Boa Nova aos não crentes. Tomei a resolução de ser uma flor sem fruto a fim de espelhar perfume toda a minha vida." Todavia, sua existência está prestes a viver um tormentoso período.
“Um cristão deve ser o primeiro em tudo, se quer que o seu cristianismo dê testemunho”. Esta frase bem pode resumir a vida e a atitude do jovem oficial do exército francês, TOM MOREL. Théodose Morel (seu verdadeiro nome) nasce a 1 de Agosto de 1915, em Lyon. Recebe formação católica. Através do Escutismo, brota nele o desejo de aventura que o animará até ao fim. Durante a adolescência, revela-se um jovem cheio de vida: desportista, sério, brilhante nos estudos, apaixonado pela leitura dos grandes escritores. Personagens como Ernest Psichari, Charles Péguy ou ainda Charles de Foucauld, entre outros, vão moldar o imaginário e personalidade de Tom e muitos outros jovens da sua geração. Sua paixão pelo exército e seus sonhos de glória encaminham-no, naturalmente, para famosa Escola militar de Saint-Cyr. No final, integra os caçadores alpinos onde seu carisma sobressai. Em 1939, seu destino altera-se por completo, tal como para milhões de franceses, com a declaração de guerra à Alemanha nazi. No comando do batalhão de caçadores, nos Alpes, ilustra-se frente às tropas italianas. Com 24 anos, recebe várias condecorações de guerra.