Primavera 68 - CLAIRE MUAMBULE

A 1 de Abril de 1984, faleceu CLAIRE-ASTRID MUAMBULE, Irmã Clara da Eucaristia, como ficou conhecida na vidaCLAIRE MUAMBULE religiosa. Em 24 anos, esta jovem nascida no Zaire (atual República Democrática do Congo) irradiou a sua felicidade e alegria em Deus, apesar de enfrentar um cancro na face que a deformou e crivou de sofrimento o final da sua vida.
Filha de um comerciante, líder de uma seita, o amor privilegiado que recebe do pai – que a trata de “minha pequena rainha” – infunde nela um forte carácter, onde se misturam orgulho, gabarolice, vontade férrea, mas também firmeza e retidão. Surpreende que, apesar das ameaças do pai, decide ser batizada na Igreja Católica, recebendo o nome de Astrid. Será o único membro da numerosa família a deixar a seita do pai.
No mesmo dia em que se batizou, com 12 anos, a 7000 quilómetros de distância, celebrou-se a cerimónia de envio de um grupo de religiosas clarissas que fundariam uma comunidade em Kabinda, cidade do sul do Zaire. Astrid não o sabe ainda, mas esta viria a ser a sua futura família.

Adolescente, deixa-se fascinar por Jesus Cristo, seu Evangelho e sua imagem no crucifixo. Sente que Ele está abandonado e que a chama. Sem resistência, ela cede: poderá encontrar algo melhor do que ser amada pelo Amor em Pessoa? Renuncia ao casamento; decide amar e seguir Jesus.

O exemplo de S. Francisco reforça nela a convicção da sua vocação. É assim que, a 18 de Agosto de 1979, reveste o hábito das irmãs clarissas. “Jesus e eu somos um. E sou a sua pequena esposa!” Passa a ser chamada pelo nome de consagração: irmã Claire da Eucaristia.
Mas não basta professar religiosamente. Claire reúne diversos defeitos que tornam difícil a sua entrega a Deus: receosa, preguiçosa, orgulhosa, altiva, desobediente, teimosa e pouco amiga do silêncio. Sua formadora chega a pensar em despedi-la do mosteiro. Por fim, dão-lhe mais algum tempo. Claire toma consciência do seu pecado e da necessidade em entregar sua vida de verdade a Deus. Mergulha na oração. O orgulho não lhe dá tréguas, mas utiliza-o agora para não largar Deus até que receba d’Ele a graça que necessita. Pela humildade é alcançada pela Misericórdia divina.
É a 22 de Outubro de 1983 que acontece uma verdadeira transformação nela. No hospital, onde fora internada, descobre-se a terrível verdade do cancro que não lhe deixa hipótese de salvação. Sem perder a alegria, Claire oferece-se a Deus: “Na mesa de operações, disse SIM ao Senhor, foi nesse momento que compreendi o significado da cruz que o Senhor me pedia para levar! Eu disse: «Sim, ofereço-Te a minha vida para que os homens que Te renegaram voltem para Ti!» Ele quer que todos os homens regressem à sua Casa, na alegria e no amor! Não posso explicar-te a alegria que se apoderou do meu coração nesse instante, não, não consigo exprimi-la… Com Deus sou como uma criancinha com a face encostada à face d’Ele.”
Toda a comunidade testemunha que, nos seus últimos meses, Claire permanece em oração e no louvor a Deus. Acreditar no Amor imenso de Deus por ela e a sua força de vontade em nunca desistir de uma decisão tomada transfiguraram-na totalmente. Foram 5 meses de sofrimento sem queixume, de rosto inchado, perdendo a visão e a boca transformada em chaga purulenta.
“Fico contente com tudo, pois foi o Senhor quem o permitiu. Não vos inquieteis com nada, porque o Senhor está comigo. Estou na sua mão. Nada acontece sem que Ele saiba. Dou-Lhe graças pelo seu Amor, que é forte, pelo seu Amor que tudo transforma, pelo seu Amor que me chama a cada instante!”
Fez da sua existência uma autêntica eucaristia através da qual se encontrava com o seu Jesus e pela qual oferecia o seu próprio sacrifício em favor dos outros, nomeadamente pela santificação dos sacerdotes. “Procuro a sua vontade, Ele manifesta-se em mim, e isso enche-me de prazer! Estou contente por ir para Ele, vivo a alegria desse encontro. Ele já está presente, vem até nós antes de irmos até Ele.”
Claire recebe muitas visitas de sacerdotes, religiosos, grupos de jovens… Interessa-se por todos, nunca falando de si ou da sua doença, mas da alegria de Deus. Convida todos à oração e a cantar. Aos jovens vai repetindo: “Procurais a alegria passageira, eu caminho para aquela que não tem fim!”
As suas últimas palavras foram o Magnificat que rezou juntamente com as suas irmãs clarissas, após ter comungado. Como Clara de Assis, a sua vida foi um louvor de gratidão a Deus.

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