PRIMAVERA 44 - Benedetta Bianchi Porro
BENEDETTA BIANCHI PORRO nasce em 1936, na Itália.
Profundamente apaixonada pela vida, cedo a sua existência fica sujeita às doenças. Ao nascer, teve uma hemorragia inesperada. Alguns meses depois, contrai poliomielite que lhe deixa uma perna mais curta. Isso obriga-a a coxear, o que será fonte de muitas humilhações.
Aos 12, traz um corpete apertado para corrigir uma escoliose provocada pela sua claudicação. No ano seguinte, sente uma dor obscura que a invade. Dar-se-á conta da sua situação quando começa a ficar surda. “Talvez um dia, não perceberei mais o que os outros me dirão, mas ouvirei sempre a voz da minha alma: é o verdadeiro caminho que tenho de seguir”.
A coragem tem os seus limites. Entra numa fase de depressão.
Então aplica-se. É excelente na escola apesar das suas limitações. A fé tornou-se a sua força.
Em Setembro de 1953, apesar da sua surdez e de se apoiar numa bengala (com 17 anos!), Benedetta consegue ingressar na universidade de Milão. Aí, orienta-se para a medicina: quer ser missionária. Porém, aquilo que parece uma vitória é, pelo contrário, o princípio de muitas humilhações.
Através dos estudos, segue a evolução do seu mal. Diagnostica-se a si mesma, antes dos próprios médicos. Tem de ser submetida a várias operações cirúrgicas. A primeira, na cabeça, corta o nervo facial esquerdo que lhe deixa metade do rosto paralisado: Benedetta não pode mais rir ou chorar sem dor.
Em Agosto de 1959, com 23 anos, uma operação à medula origina a paralisia das pernas: Benedetta desloca-se com muletas. Depois é uma gengivite que lhe faz cair os dentes. Perde o olfato, o tato, o paladar e sua voz enfraquece ao ponto de se tornar quase inaudível.
Mesmo assim, Benedetta prossegue os estudos até ao 5º ano de medicina.
No início de 1963, começa a perder a vista. É operada. Quando acorda está totalmente cega. Tem de renunciar ao pouco que lhe restava e constituía a sua felicidade no meio das provas: a leitura, a música (tocava piano), a beleza da natureza à qual era tão sensível, os estudos quando estava a concluí-los… TUDO.
Está praticamente cortada do mundo exterior. Só lhe resta um fio de voz e a sensibilidade da mão direita com a qual aprendeu o alfabeto dos surdos-mudos
Por ocasião de uma peregrinação a Lourdes, é objeto de um milagre mais inesperado, afirma ela, do que a graça de uma cura: “A convicção que tenho da riqueza do meu estado só é cumulado pelo desejo que tenho em conservá-lo.” Parece masoquismo, mas não é: Antes a certeza – humanamente incompreensível e até escandalosa – de que a cruz é fonte de vida e alegria.
Quanto mais Benedetta mergulha na noite, mais ela é elevada na luz de Deus.
Dela, diz a mãe: “Ela vive de oração, canta, dita cartas para os amigos, a sua existência é mais angélica do que humana. Cada noite, ela dá graças a Deus pelos males que a afligem, dizendo «Deus toma para dar». Ela é feliz de poder morrer sem ter cometido um só pecado mortal. E, mesmo neste estado, ela diz que ama a vida, o sol, as flores, a chuva. É de uma obediência e de uma humildade desconcertantes, que edificam…”
A sua vocação: Ser Luz para os outros. “O meu dever consiste em amar o sofrimento daqueles que vêm à minha cabeceira e me concedem ou pedem o socorro de uma oração”. Sendo cega, é ela que traz luz aos outros, como despenseira de paz e fonte de alegria.
Benedetta morre na paz e na alegria, a 23 de Janeiro de 1964. Foi beatificada a 14 de setembro de 2019.
Alguns ditos seus:
“Viver fazendo que só Ele saiba e conheça o sentido da nossa vida”.
“Na provação da minha surdez e na mais escura das minhas solidões, procurei tornar-me serena pela vontade, a fim de fazer florescer o meu sofrimento, e esforço-me com humilde vontade de chegar a ser como Ele quer: pequena. Pequena, sinto-me quando acontece entrever a sua infinita grandeza na noite dos meus dias mais difíceis”.
“Mesmo nos nossos desertos mais silenciosos Deus não nos deixa jamais sós. Para aqueles que acreditam, tudo é um sinal de Deus”.
“Primeiro no meu cadeirão, depois na minha cama, que se tornou a minha morada, encontrei uma sabedoria maior do que a dos homens. Descobri que Deus existe, que Ele é amor, fidelidade, alegria, certeza, até ao fim dos séculos”.
“Os meus dias não são fáceis; são duros, mas doces porque Jesus está comigo, com as minhas dores e alivia-me na solidão e dá-me a luz na escuridão. Ele sorri-me e aceita a minha cooperação com Ele”.
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