Por especial desígnio da Providência...
Recordar o Chamamento, o alvorecer da Vocação, implica sempre recuar no tempo, desvelar memórias, reviver ternas recordações e sobretudo, recordar pessoas… Aquelas que de uma maneira, ou de outra, nos ajudaram a crescer, nos acompanharam no discernimento e nos serviram de estímulo vocacional. Nasci e cresci em Cantar-Galo, uma freguesia nos subúrbios da Covilhã, numa família profundamente cristã. Desde a mais tenra idade, fui iniciado aos valores cristãos, tanto pelos meus pais, como pelos meus avós, que desde muito cedo me ensinaram a rezar e a amar a Deus.
Por graça de Deus, cruzou-se na minha vida, a pessoa de Sua Excelência Reverendíssima, Dom António Luciano, Bispo de Viseu – o Pároco da minha infância… Por iniciativa dele, comecei a servir ao altar como acólito. Teria eu os meus 6 anos de idade.
Era simplesmente emocionante para mim poder ver o sr. Bispo (à época, sr. Padre Luciano) paramentar-se na sacristia da Capela de São Vicente de Paulo… Mais emocionante ainda, era poder comtemplar de perto o Mistério Eucarístico, sempre celebrado com muita devoção e piedade pelo sr. Bispo… Talvez aí, sem me dar conta, Deus começava a chamar-me, a tomar parte nos Seus mistérios, algo de diferente e inexplicável nascia dentro de mim. A partir daí, comecei a dizer que queria ser padre e procurava, pese embora a tenra idade, rezar cada vez mais, relacionando-me mais intimamente com Aquele em mim suscitava tais sentimentos…
Sem dúvida alguma, um dos pontos altos, foi o dia em que a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima visitou Cantar-Galo. Foi um dia verdadeiramente magnífico. O sr. Padre António Luciano tudo preparou com maior zelo e dedicação. Nesse dia, por especial desígnio da Providência (e por insistência das minhas catequistas e da minha mãe) coube-me ir vestido do meu homónimo pastorinho, São Francisco Marto. E ali estava eu, aos pés da Virgem Imaculada, junto do futuro D. António Luciano… O templo transbordava de fiéis e era deveras comovente ver tantos deles chorarem, colocando toda a sua esperança na intercessão de Maria Santíssima.
Talvez tenha sido por estes pequenos sinais, mas plenos em significado que a Vocação, que o chamamento de Deus começou a desabrochar em mim, como flor na primavera. Pouco tempo depois, por volta de 2009 (se a memória não me atraiçoa), o Padre António Luciano foi designado para outras funções, despedindo-se, assim, da Paróquia onde eu cresci. Contudo, ficou-me sempre retida na memória a imagem do Padre António Luciano.
Orientado pelo novo Pároco, o Pe. Henrique dos Santos, continuei a crescer na Fé e na Vocação… A Vocação surgia cada vez mais clara, a ideia de abraçar o sacerdócio passava a ser algo cada vez mais pensado e racional, abandonando a dimensão da ilusão infantil. Continuei o meu percurso cristão, na catequese, colaborando na Paróquia, servindo ao altar como acólito. Se anteriormente comparava a Vocação a uma flor, que desabrocha em plena primavera, não posso, em sã consciência, deixar de admitir que por muitas vezes esta “flor” passou por invernos rigorosos… Fruto da incompreensão de familiares e amigos, fruto da “névoa” da dúvida e da incerteza, tão típicas no percurso vocacional.
Ao chegar ao 10º ano, durante a minha preparação para o Crisma, orientada pelo sr. Pe. José Dionísio, uma notícia inesperada chegou à Diocese da Guarda: o Santo Padre havia nomeado o Pe. Luciano como Bispo de Viseu. Foi para mim sinónimo de grande alegria, um dos maiores estímulos da minha Vocação era elevado ao Episcopado. Mal sabia eu o que a Providência me reservara…
Naquele dia, 28 de maio de 2018, tive a graça de receber o Sacramento da Confirmação, das mãos do Sr. Pe. António Luciano, Vigário Episcopal para o Clero da Diocese da Guarda, Bispo Eleito de Viseu.
Agora, fortalecido pelos dons do Espírito Santo, procurei caminhar com redobrado entusiasmo rumo ao pleno cumprimento da Vocação. E assim, no passado mês de setembro, ingressei no Seminário Interdiocesano, disposto a discernir, conhecer e dar pleno cumprimento à vontade de Deus.
A todos peço, por caridade, a vossa oração, não só por mim e por todos os seminaristas, mas também para que o Senhor se digne suscitar muitas e santas vocações sacerdotais.
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