Primavera 96 - ANICKA ZELICOVA
ANICKA ZELIKOVA, nascida a 19 de Julho no ano 1924, na Morávia (região oriental da atual República Checa), era a filha mais velha de um casal de modestos camponeses. A família, solidamente católica, era fiel à oração e à prática religiosa.
Anicka, como criança, era sorridente, teimosa e ciumenta da afeição dos pais. Nada de muita santidade nesses primeiros anos. Os estudos realizaram-se no convento próximo, da Irmãs da Santa Cruz. Aí, sob a orientação da Ir. Ludmilla, o carácter de Anicka suavizou-se. A jovem gostava do estudo, do desenho e do canto; a instrução religiosa abriu-lhe novos horizontes que a maravilharam. Ao saber que, na eucaristia, Jesus se tornava realmente presente, Anicka aspirou a fazer a primeira comunhão. Esta marcou a sua vida de uma forma decisiva.
Durante um retiro, escreveu: “Eu começava lentamente a compreender que há uma outra vida para além daquela que vemos à nossa volta. Uma vida que é grande, pura e santa. Até aqui, eu amava Jesus, mas agora cresce o meu desejo de fazer algo, de me sacrificar por Ele.”
Pela leitura de “História de uma alma” de Stª Teresa de Lisieux, Anicka descobriu o Carmelo.
O seu comportamento transformou-se; com esforço, tornou-se terna e paciente; solidarizava-se com as companheiras com maiores dificuldades, encorajando e ajudando-as. Acima de tudo, experimentava uma alegria interior que a iluminava e transparecia nas suas atitudes. Todos desejavam a sua amizade, revelando uma maturidade invulgar para a sua idade.
No dia 11 de Julho de 1937, assistiu à missa solene de um jovem sacerdote da paróquia, o padre Joseph Zavidel. A celebração sensibilizou-a profundamente. Tomou então a decisão de rezar diariamente pelos sacerdotes e, à semelhança de Santa Teresa de Lisieux, ofereceu-se a Cristo especialmente por eles.
Na Quinta-Feira Santa de 1938, sabendo de abortos praticados, ela ofereceu-se a Deus como sacrifício expiatório por esses pecados. Na Sexta-Feira Santa, diante do Santíssimo Sacramento, renovou de todo o coração a oferta.
De imediato, chegou a provação da doença. Ao tossir expeliu sangue. Primeiro, uma tosse insistente e, depois, o diagnóstico final: tuberculose fulminante. O médico deu-lhe 3 meses de vida. Anicka foi a única que não ficou arrasada com a notícia.
Porém, contra toda a esperança, a sua saúde melhorou.
Isso permitiu-lhe prosseguir os estudos e de ajudar os pais na lavoura. De tal maneira se aplicava em tudo que ninguém desconfiou o quanto continuava a sofrer fisicamente. “Querido Jesus, que meu amor por Ti seja cada vez maior, e que esse amor me faça esquecer completamente de mim mesma. Tudo, seja tristeza ou alegria, vem do Seu amor. Que tudo o que sou e tenho cante a Ti uma canção de louvor.”
Mas no início de 1939, as hemoptises multiplicaram-se de forma alarmante. Acabaram-se a escola, a eucaristia quotidiana, os gestos de caridade e sacrifícios por amor a Deus. “Agora só posso revelar uma manifestação do meu amor: querer somente o que Ele quer!”
A oração e a fé tornaram-se mais áridas, tal como o experimentaram alguns grandes místicos. Contudo, Anicka ultrapassou tudo com convicção: “Uma paz muito grande e pura enche o fundo do meu coração.”
Na última fase da sua curta vida, rezava meditava e, sobretudo, escrevia. É um autêntico apostolado epistolar: cada uma das usas cartas são preciosidades espirituais que consolavam, exortavam, pacificavam, traduzindo o seu profundo amor por Deus e seus irmãos. No último ano de sua vida ela escreveu “Eu sou de Deus, eu pertenço ao céu.”
A 7 de Fevereiro de 1941, recebeu o Escapulário do Carmelo e a consolação de pronunciar os seus votos na Terceira Ordem Carmelita, com a dispensa de idade, pois ainda não tinha dezoito anos.
A agonia continuou. Mas o amor foi mais forte: “Tudo quanto posso dar a Deus, agora, são os batimentos do meu coração e o meu sorriso. Somente me restam o amor e a confiança.”
Na manhã de 11 de Setembro de 1941, dia da sua morte, murmurou: “Como é belo… não trocaria o meu lugar com ninguém… O meu coração bate… para Jesus… amo-O tanto!... Tenho confiança.”
Nem o regime comunista que assolou o território, desde 1939, conseguiu atenuar a reputação desta jovem cuja fama de santidade ultrapassou as fronteiras. Assim, em 1991, a causa da sua beatificação foi introduzida e, posteriormente, foi declarada Serva de Deus.
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