Primavera 93 - JEAN COLLÉ
JEAN COLLÉ nasceu em Brest, na Bretanha francesa, a 12 de julho de 1921.
Após sua escolaridade, foi admitido nas Construções Navais, na qualidade de desenhador. Seu espírito de serviço realçou-o já nessa época. Porém, com o início da II guerra Mundial, a crise económica empurrou-o para o desemprego. Empreendedor, começou a fabricar brinquedos, com sucesso.
Em julho de 1941, sua cidade foi bombardeada, vitimando mortalmente cerca de 250 pessoas, enquanto Jean escapou ileso. No mês seguinte, ao passar diante de uma igreja e questionou-se interiormente: “O que é ser padre!?” Após a longa conversa com o padre do lugar e uma ponderada reflexão, tomou uma decisão radical. Aos 20 anos, Jean-Marie René Collé – seu nome completo – entrou no seminário. Quis tornar-se padre para evangelizar particularmente os jovens operários. Porém, os acontecimentos iriam modificar drasticamente a sua vida.
Com a ocupação da França pelas tropas nazis, o seminário foi encerrado, em novembro de 1942. Regressado a Brest, pôs-se ao serviço da Cruz Vermelha local e da Defesa Pacífica. Um estágio no hospital iniciou-o no domínio da cirurgia.
Entretanto, os bombardeamentos intensificaram-se. Jean entregava-se totalmente no resgate e ajuda à população afetada. Para evitar a deportação e os trabalhos forçados na Alemanha, Jean consegue documentos falsos para amigos. Foi-lhe proposto fugir para Inglaterra. Ele, contudo, recusou. “Os nazis submetem os trabalhadores estrangeiros a sofrimentos morais. Pretendem fazer deles escravos de Hitler. Tenho o dever de ir para a Alemanha para tentar, com a ajuda de Deus, dar o melhor de mim aos outros.”
Jean pediu para substituir um amigo, pai de família, listado para o STO (Serviço de trabalho Obrigatório) na Alemanha. Com essa opção, adiava seu sonho de se tornar padre.
Em junho de 1943, chegou a Freital, a noroeste de Dresden, capital da Saxónia. As condições são más. Os primeiros passos foram dolorosos. Mas, graças à oração perseverante, reagiu. Assim, apesar de proibidas todas as atividades religiosas, organizou reuniões da JOC (Juventude Operária Católica), assistência espiritual aos doentes e ajuda aos mais desfavorecidos, desdobrando-se para reanimar o moral dos seus companheiros. Mandava rezar missas pelos desaparecidos e encarregava-se das campas dos que faleciam. Criou ainda uma folha clandestina, especificamente destinada a seminaristas e padres deportados. Conseguiu que a metade dos franceses exilados nessa região pudessem celebrar a Páscoa.
As duras condições de trabalho, a subalimentação e reduzido descanso – só dormia 4 horas diárias – não reduziram a fé e a caridade de Jean. “O meu tempo para Jesus nunca é demais. Ele é o Tudo da minha vida.” É a sua forma de viver a vocação que sentia receber de Deus. “A vida deve ser toda uma missa. O meu trabalho é o altar onde devo oferecer-me com Cristo. Não somos nós mediadores? Na alegria de Cristo que se nos dá na medida em que nos abandonamos a Ele.”
Tanta atividade não passou despercebida aos alemães. Em julho de 1944, foi detido, acusado de “propaganda católica”. Julgando-o padre, arriscava-se a ser enviado para um campo de concentração. Porém, descoberta a sua condição de seminarista, acabou por ser repatriado.
De regresso a Brest, passada apenas uma semana, Jean incorporou novamente a cruz Vermelha. Sua saúde fora fortemente abalada pelas privações da sua estadia na Alemanha, mas o seu ardor e coragem nada perderam. Apesar do perigo constante, saia a qualquer hora para socorrer, levar notícias, animar e partilhar tantas alegrias e tristezas.
Em setembro de 1944, na noite de 8 para 9, encontrava-se num túnel que servia de abrigo, junto de 400 refugiados. Também aí se guardavam munições e combustível. No meio da noite, um enorme incêndio deflagrou bruscamente, originando uma espessa nuvem de fumo negro. Despertando, Jean imediatamente começou a socorrer todos o que pode, encaminhando-os para a saída. No regresso ao túnel, para resgatar outros, Jean foi apanhado por nova explosão. Foi uma das 373 vítimas dessa catástrofe, juntamente com sua irmã, Marie-Antoinette, que se juntara aos socorros.
Seu confessor, o p. Xavier Belbeoch, disse dele: “Foi para se dar que partira para a Alemanha, e foi dando-se que morreu… Conduzi-o ao sacerdócio completo, quer dizer ao sacrifício completo, pelo sacrifício à glória do céu.”
- Visualizações: 559