Primavera 56 - VIRGILIJUS JAUGELIS

A 17 de fevereiro de 1980, morria VIRGILIJUS JAUGELIS.VIRGILIJUS Jaugelis Cópia
Nascido na Lituânia, a 9 de setembro de 1948, viveu toda a sua existência sob a opressão do regime soviético. A morte de Estaline, em 1953, abrandou a política antirreligiosa. Sol de pouca dura. Três anos depois, D. Sladkevicius, bispo auxiliar de Kaisiadorys é retido em domicílio, sob vigilância. A perseguição redobra de ardor. Padres e fiéis são molestados; levam-se a cabo destruição e profanação de igrejas, cemitérios e monumentos religiosos. A propaganda contra a religião intensifica-se. Mas, simultaneamente, acresce e organiza-se a resistência dos cristãos. O jornal “Crónica da Igreja lituana” é publicado e divulgado clandestinamente. É desta maneira que o Ocidente fica a conhecer suas provações, mas também suas esperanças e coragem, através do relato de numerosos mártires e confessores da fé.

Expressão dessa resistência, é a chamada Colina das cruzes, no norte da Lituânia. Ao longo dos últimos séculos, este lugar adquiriu um significado especial para os católicos lituanos (mais de 80% da população). Sujeitos à opressão dos países vizinhos, especialmente da Rússia, muitos foram aqueles que aí cravaram uma cruz, lembrando alguém morto ou deportado. Passou a simbolizar a resistência espiritual do povo. Estima-se que cerca de 250 mil lituanos foram vítimas da tirania de Estaline. A maioria morreu exilada em gulags (campos de trabalho forçado). Por três vezes o regime soviético mandou arrasar o lugar. Obstinadamente, as cruzes voltavam, em maior número, durante a noite, ignorando perigos, proibições e perseguições.
Entre aqueles que deram a vida, encontra-se o jovem sacerdote Virgilijus Jaugelis.
Durante muito tempo, seu ingresso no seminário foi adiado. O KPG (polícia secreta soviética) impedia-o. Existia um número limitado de entrada de novas vocações, de preferência “compradas” pelo regime. Já em 1974, Virgilijus fora preso e deportado para a Sibéria por ter divulgado a Crónica católica. Sua inspiração e motivação foram marcadas pelo sacrifício de jovem Romas Kalanta que, em 1972, com apenas 19 anos, se imolara pelo fogo em protesto contra a opressão soviética em desfavor da língua, cultura e religião lituanas. No Gulag, Virgilijus viu perecer numerosos sacerdotes e fiéis, determinando-o ainda mais a tornar-se padre.
Por fim, quatro anos depois, a 1 de novembro de 1979, pode celebrar sua primeira missa, em Kybartai, num período particularmente conturbado. Imediatamente pôs todo o seu empenho na evangelização dos leigos, na catequese das crianças e na pastoral dos sacramentos. Seu zelo não passou despercebido às autoridades civis. Apos poucas semanas é detido, condenado e deportado, de novo, para a Sibéria. Quando regressa, em final de 1979, sua saúde está irremediavelmente arruinada. Com cancro, é obrigado a permanecer acamado. Continua a celebrar, deitado. Sua paz e força edificam aqueles que o rodeiam. Sem nunca se queixar, confia-se à Virgem Maria e manifesta alegria em oferecer sua vida a Deus pela sua Igreja Lituana.
Com apenas 31 anos e 15 meses de sacerdócio, praticamente vividos no exílio, falece. Apesar das restrições exercidas pelas autoridades e interdição de manifestação pública, são milhares os fiéis e uma centena de padres que participam das suas exéquias.
Após sua morte, a perseguição perde intensidade. Seu túmulo passa a ser lugar de peregrinação. Para os católicos lituanos, este jovem padre é um autêntico confessor da fé.

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