PRIMAVERA 35 - Elena Spirgeviciute
Dois meses após a anexação do seu país, a Lituânia, pela União soviética, em Agosto de 1940, ELENA SPIRGEVICIUTE inicia um diário. Sente que a sua vida está a mudar. Este não descreve apenas os acontecimentos da sua cidade de Kaunas durante esse período, mas revela também a evolução espiritual desta estudante, então com 16 anos.
Elena, abalada pelas circunstâncias que o seu país atravessa, confessa que atravessa uma crise: “Decidi ser uma boa católica, mas é difícil sem o socorro do Senhor, e sinto-me perdida… Desejo ser boa, não quero levar uma existência vazia, mas contribuir em algo de bom, ser útil.”
Tem consciência da sua fragilidade devido à sua extrema sensibilidade. Adolescente discreta, é estudiosa e agradável companhia, procurando concretizar o que escreveu como virtudes a praticar: “Honestidade, modéstia e inteligência”. Apesar do contexto opressor no seu país, não deixa de querer viver “bons momentos”, divertindo-se e dançando. Mas depressa tudo vai mudar.
Em Julho de 1941, a Lituânia é invadida pelas tropas alemãs, consequência da quebra do pacto germano-soviético. O conflito entre nazis e partidários comunistas espalharam um clima de terror na cidade. Em Setembro é o massacre dos judeus locais, chocando toda a população. O diário de Elena deixa transparecer o seu desespero. Esta tragédia leva-a a interrogar-se sobre a sua vocação neste mundo dilacerado. Sua caminhada espiritual acompanha o desenrolar dos acontecimentos. Através de encontros e de partilha aprofunda os seus conhecimentos sobre Deus, a Igreja e a religião. Reflete, medita, reza. A sua vida prossegue, naturalmente.
Apesar de ser uma bela rapariga e de atrair o olhar dos rapazes, não se lhe conhece nenhum namoro. Em Fevereiro de 1942, escreve no seu diário: “O meu coração está cheio de qualquer coisa. Regozijo-me de ter compreendido o que é a felicidade. Mas penso seriamente que poderei encontrar uma paz maior atrás da clausura. Convento. O termo evoca por si a solidão, o silêncio, a paz. Senhor, são sonhos sérios. Quero-o, seguramente. Quero viver algo. Oh, como gostaria que a guerra acabasse! Terminaria os meus estudos e consagrar-me-ia. Pai, mais perto de Ti! Todas as festas que tanto amei antes não são mais, quando reflito atentamente, que vaidades e presunção. Somente as evitarei com a tua ajuda, Senhor! E quero-o, não por ser feia, mas porque a beleza é passageira. Envelhecemos, curvamo-nos e a beleza deixa de ser. Ora eu, quero ser bela interiormente.”
Apesar a sua inquietação vocacional, Elena sabe bem que tem ainda de se aperfeiçoar nos seus sentimentos e hábitos. Por isso, não precipita nada. Esforça-se na simplicidade e na oração. Após os estudos secundários, inscreve-se na faculdade de medicina pois gostaria de ser pediatra e religiosa enfermeira. Mas a universidade de Kaunas é encerrada pelos nazis. Passa ao estudo do francês e do alemão. Recusa mesmo um lugar de professora numa povoação vizinha pois, perante a insegurança geral, não quer deixar os seus pais sozinhos.
No dia 3 de Janeiro de 1944, pelas 22h30, quatro homens armados e embriagados irrompem pela casa. Declaram-se partidários soviéticos. Tentam assediar Elena que se lhes opõe. Ameaçam-na de morte. Não cede: “prefiro morrer”. Traça, então um grande sinal de cruz sobre os seus pais, dizendo: “Vou morrer, mas vos vivereis.” Resiste à violência dos seus agressores, sem ceder, até de ser baleada. Tinha 19 anos.
Os lituanos consideram-na um símbolo da resistência nacional mas reconhecem-na, sobretudo, como mártir. Sobre o seu túmulo, edificaram um monumento. A causa da beatificação foi introduzida em 1999.
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